Fazer por ser

Fazer por ser

quinta-feira, maio 20, 2010

Mudanças

O texto não é meu mas achei-o fantástico, talvez por estar cada vez mais perto desta realidade, sobre ele apenas comento que o problema maior das mudanças é a nudez entre uma e outra roupa, entre um e outro caminho. A esta nudez pode chamar-se quase tudo. Muitos chamam-lhe solidão, outros derrota, tudo nomes de fim e nunca de meio. Por isso é sentida por tantos como um abismo. E simplesmente não mudam...


Ora aqui vai:

"As mudanças acontecem inevitável e constantemente. Mudam os dias com as voltas de um planeta irrequieto. Mudam as estações cada vez mais irregulares de frio e calor num pisca-pisca desconcertante. Mudam as cidades e os campos num alinhavo de futuro que esmaga o passado, num presente que se pendura ora num ora no outro, mas nunca em si mesmo.

Estar disposto a mudar passa por segurar o leme quando a tempestade do conhecimento adquirido cospe do barco que julgamos ser, o capitão que afinal não éramos. Porque rasgar o entendimento de novos caminhos é perceber o poder individual de mudar de rumo, e esse só é possível quando identificadas as falhas pessoais. Ou não fosse cada um o maior responsável pelo seu próprio fado.

Mudar dói. Mas nunca tanto quanto não o fazer após a descoberta do engano do caminho tomado, se a consciência existir, claro. Sem ela, a opção é sempre a de relaxar e pensar que está tudo muito bem, que podia estar pior, que por isso não vale a pena arriscar.

Claro que podemos nunca mudar. Podemos não querer ver mais, não querer aprender mais, não querer ir mais longe. Podemos até estar mortos. O que não faltam são pessoas mortas, julgadas, pelas próprias e pela maioria dos outros, vivas. Andam, comem, trabalham, deslocam-se, falam, convivem. Mas estão mortas. E estar morto dá muito menos trabalho do que estar vivo, porque não se constrói nada.

Estar vivo é ter consciência da responsabilidade pessoal no rumo do próprio (às vezes até de outros). É utilizar a força que se tem e a que se pensava não ter e se descobre entretanto. É cerrar o dentes e gritar Eu sou capaz mesmo quando meio atolado no lodo que a lucidez deixa quando se afasta. É não desistir do caminho, mesmo depois de o saber cheio de pedras prontas a saltar para dentro do sapato.

As mudanças são necessárias e inevitáveis. Haja sempre coragem que abrace o pensamento positivo e o espírito persistente, sendo que nem o primeiro proíbe os pensamentos visuais que servem os medos num tubo de plástico pelas goelas a baixo, nem o segundo se abstém de adultério com a teimosia pura das portas fechadas.

Não obstante a procura de lucidez e entendimento pela organização de pensamentos e reflexões, é necessário o exercício contínuo de anular as saladas emotivas que saltam de dentro de caixas onde se vão amontoando as tralhas. E ainda a procissão vai no adro."

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