Fazer por ser

Fazer por ser

terça-feira, março 09, 2010

Porque não me ensinaste Avó

Ontem fui levar-te flores....era dia da Mulher e se há "Mulheres" tu és a maior delas. Já se passaram treze anos e sinto uma enorme saudade de ti,que tão suavemente me chamavas "minha Ziza da avó...minha menina", este cantinho é todo ele te dedicado, não me ocorre outro nome que me poderia identificar melhor.

Foste tu que me ensinas-te a andar, pegaste-me na mão... desajeitadamente e aos tropeços dei os primeiros passos. Desviavas todos os obstáculos para que não caísse e dizias-me que não fosse por ali ou por acolá, os perigos espreitavam.

Comecei a andar sozinha, sabia que por detrás havia sempre uma mão estendida e isso dava-me uma segurança, que me fazia confiar e acreditar que estarias sempre por ali.

Mais tarde ensinaste-me a cuidar de mim e fizeste-me entender que deveria respeitar os outros, que devia estudar, cumprir todas as tarefas que iriam contribuir para que conseguisse tornar-me numa pessoa de quem te pudesses orgulhar mais tarde.

Veio a escola, a professora, os colegas...aprendi a ler, a escrever, a brincar, a partilhar...

Durante muitos anos aprendi aquilo que quiseste ou quiseram que eu soubesse, mas...o que nunca me ensinaste, foi como devia fazer para aprender a conviver com o sofrimento, com a dor , com a perda, com as ausências, com a saudade, com a mentira, com a traição, com a injustiça...

Não me ensinaste a descobrir quando me devia afastar de pessoas, que nunca me dariam motivos para sorrir.

Nunca me ensinaste a não amar quem não me ama, hoje tento amar mesmo sem ser amada, fazendo o meu exercício quotidiano para que consiga amar incondicionalmente.

Não me ensinaste a erguer depois da desilusão, a esquecer quem nunca se lembrou de mim, a perdoar erros irreparáveis, a esquecer mágoas, a conviver com a solidão imposta, a defender-me de agressões emocionais, a evitar a invasão do que melhor penso possuir, a minha identidade, o meu "EU".a minha auto estima e o respeito que tenho por mim.

Não me ensinaste como sobreviver depois de uma tempestade, nem sequer me disseste onde devia procurar refúgio, escondeste, não acredito que tenha sido de propósito, que o mundo que me mostravas era muito diferente daquele que iria encontrar um dia.

Se ao menos eu sentisse que quando estivesse em perigo tinha braços abertos para me ampararem! Mas tu já não estás sempre de mão estendida.

Hoje não te tenho avó, nem tudo o que não me ensinaste, vou aprendendo, muitas vezes da pior forma, contudo, ainda me resta o melhor... A VIDA.

4 comentários:

  1. Acho que ela te ensinou a cartilha da vida, ensinou-te as "frases" da vida e deixou que amadurecesses construindo frases. E é precisamente pela conjugação palavras, tornadas frases como estas que escreveste que sem te aperceberes, reconheces que tudo ela te ensinou. Faz parte do processo aprendermos a "dribral" os contratempos da vida.

    ResponderEliminar
  2. Estás cheio de razão..ensinou-me tudo a minha Alice. Beijo

    ResponderEliminar
  3. Erradamente, mas na maior parte das vezes e forma consciente, também nós não passamos esses e outros ensinamentos que envolvam dôr aos nossos rebentos. E não o fazemos por instinto de protecção, apenas lhes passamos a parte colorida da vida, mas sei que tu, tal como eu também transmites, a FORÇA (que muitas vezes não temos mas não deixamos que eles se apercebam.)
    E essa força será a arma que eles como nós irão usar contra as agruras desta vida que são tantas e nos esperam a cada canto, sobretudo quando apresentamos sinais exteriores de felicidade, aquilo que a maior parte não tem.
    E é isso que quero para ti minha menina linda e já tivemos esta conversa; nunca deixes que quem te magoa, se aperceba que o conseguiu. Para esses queixo erguido, sorriso rasgado, ignorância q.b., mesmo quando por dentro nos sentimos uns cacos.
    Sabes que tens e terás sempre e para sempre aqui o teu Porto de Abrigo (com estas mudanças todas, tens e que telefonar antes para saber aonde na UE stamos, lol).
    Beijos ti amo

    ResponderEliminar
  4. Minha querida, tudo o que te foi transmitido, foi passado com a sabedoria, a vivência de quem tb já foi menina, adolescente e mulher como tu, nós tentamos sempre proteger quem amamos, pintamos o arco-iris, pensando, têm tempo quando crescerem de ver que a vida não é bem assim.
    Quando crescemos temos o livre arbítrio para tomar as nossas decisões, o rumo da nossa vida, seja ele bom ou mau, faz tudo parte do crescimento, principalmente do interior.
    Nunca deixes que te menosprezem, que te deitem abaixo, ainda que o sintas não o demonstres.
    Quando estamos no fundo do poço, e reconhecermos que estamos lá, é meio caminho andado para vir para cima e para fazer-mos com que tudo seja diferente.
    Está tudo nas nossas mãos ainda que directa ou indirectamente.
    Basta ACREDITAR!

    ResponderEliminar